Brasil Colônia

 


Brasil Colônia

Antecedentes e Expansão Ultramarina

    A "descoberta" do Brasil pelos portugueses foi um dos marcos da expansão comercial europeia e do processo de superação do feudalismo. Dessa forma, a prioridade de expansão coube aos países que se organizaram na Península Ibérica: Espanha e Portugal. No entanto, Portugal foi o primeiro Estado a realizar dois processos que foram responsáveis pelo advento do mundo moderno, sendo eles a formação do Estado Nacional e a expansão marítima. 
    Um dos marcos da expansão portuguesa ocorre em 1415, com a conquista de Ceuta no norte da África. Essa conquista significou a apropriação de importantes lucros para o país e para o grupo mercantil ligado à ele. Em meio a estes interesses conflitantes, o Estado busca desempenhar um papel conciliador, dirigindo a expansão e fazendo com que ambos se subordinassem. Dessa forma, a atividade comercial tornou-se uma empesa do Estado absolutista de Portugal. Todavia, o mesmo tomou os interesses propriamente burgueses da expansão com um pretexto: a missão de salvar o mundo dos infiéis. Porém, a burguesia, que não estava satisfeita, não teve como se afirmar como classe em plena vigência do mercantilismo. 
    A expansão portuguesa continuou com as conquistas e explorações nos arredores da África. Em 1498, Vasco da Gama atingiu Calicute, na Índia, que era o grande centro abastecedor de especiarias orientais. Assim, Portugal tornava-se o detentor da nova rota marítima para as Índias. 

O Descobrimento da América

    A medida que os outros reinos se unificavam, lançavam suas expansões ultramarinas. No caso da Espanha, por exemplo, sua unificação política se deu com o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela. Como resultado dessa união, em 1492, intensificaram o movimento de reconquista e expulsaram os mouros de Granada, unificando definitivamente o território. Neste mesmo ano, os reis católicos iniciaram a expansão marítima espanhola, comandada por Cristóvão Colombo, na qual pretendia atingir as Índias mas acabou esbarrando em um novo continente: a América. 
    Contestados pelos portugueses, os reis da Espanha tentaram negociar um tratado que lhes garantisse reconhecimento de direitos sobre as terras recém descobertas. E após várias negociações, pediram a intervenção do papa, e assim foi assinado, em 1494, o Tratado de Tordesilhas, onde Portugal e Espanha dividem, entre si, o mundo descoberto ou por descobrir. Contudo, esse tratado foi contestado pelos países como França e Inglaterra, que não o reconheceram. 
    Logo em seguida, para estabelecer seu domínio sobre as Índias, Portugal organizou uma nova armada sob o comando de Pedro Álvares Cabral, para trazer-lhes mais especiarias que garantiam enormes lucros ao Estado e a burguesia mercantil. Contudo, Vasco da Gama percebeu sinais de existência de terras a oeste de sua rota, e de acordo com a descoberta da América pela Espanha e o Tratado de Tordesilhas, fazem crer que Cabral tenha recebido instruções para verificar a veracidade das informações e tomar posse das terras, caso encontrasse. Por isso, em forma de viagem para as Índias, o Brasil foi "descoberto" em 22 de abril de 1500. 
    A primeira impressão portuguesa foi que não havia produtos de fácil obtenção que pudessem interessar de imediato, cuja preocupação maior era os produtos lucrativos das Índias. Encontraram apenas um povo estranho e incapaz de compreender os recém chegados, que fiéis ao interesses mercantilistas, ansiavam por notícias de existência de ouro. Como era difícil a comunicação com os índios que aqui viviam, as terras recém descobertas, chamadas de Terra de Santa Cruz inicialmente, vistas pela ótica de lucros mercantilistas portugueses, pareceu mais como um obstáculo do que do que uma conquista. 

Modelo Colonizador Português

  Na Europa, a aceleração dos interesses mercantilistas e a expansão comercial aceleraram o desenvolvimento da economia de mercado, incentivando a acumulação de bens. Essa fase foi marcada pela transformação da produção artesanal, passando a manufatura desta para o sistema fabril, momento que se completa a produção capitalista, século XVIII. Porém, para o sistema fabril se constituir, era necessário um certo grau de acumulação de capital, na qual foi obtido com a exploração das colônias da Ásia e da África, que proporcionavam grandes Lucros. 
    Já no Brasil, essa prática não se mostrou satisfatória, sendo que o continente ainda estava por explorar. Para que a exploração rendesse a acumulação, fez-se necessário iniciar no campo da produção. Por isso, iniciaram a agricultura e o povoamento dessas terras, para ter em troca povoamento e valorização econômica. Desta forma, origina a agricultura de exportação, com os centros decisórios fora das fronteiras coloniais com dependência do mercado externo. A colônia é área reservada a exploração metropolitana, ou seja, tornando-se uma região periférica que gira em torno da metrópole. Inicialmente, o Brasil era caracterizado como colônia de exploração.

O Açúcar

    Alguns dos objetivos lusitanos do início do século XVI era manter o comércio com as especiarias, o ouro da África e do oriente e escravizar africanos para produzirem açúcar nas ilhas do Atlântico, o que daria socorro para escassez de cereais no reino português. Durante os primeiros 30 anos do "descobrimento" do Brasil, Portugal não demonstrou interesse pelas Terras de Santa Cruz, quase abandonando-a, pois as especiarias e as manufaturas de luxo do Oriente eram muito mais lucrativas, sobrando pouco para investir nas novas terras.
    Além disso, os portugueses não haviam explorado muito bem as terras, e não encontraram ouro ou prata nas diversas expedições de reconhecimento do litoral brasileiro. O que eles descobriram foi o pau-brasil na Mata Atlântica, madeira que já era conhecida pelos europeus, que a utilizavam como corante na indústria têxtil. Até então a madeira vinha do Oriente, mas o Rei de Portugal firmou um contrato para a exploração do pau-brasil nas novas terras. O Estado Português comprometeu-se com os mercadores em não mais importar a madeira do Oriente, mas sim, criar uma fortaleza pagadora de impostos à Coroa portuguesa, no Brasil. Assim, nascem os "brasileiros. 
    Porém, as coisas mudaram seu rumo quando os espanhóis encontraram ouro e prata em suas terras nas américas, a França decidiu mandar navios ao Brasil, e disputar a procura de metais preciosos com Portugal. As expedições francesas ao Brasil provocaram protestos dos portugueses, na qual reclamavam sobre o acordo do Tratado de Tordesilhas, onde foi respondido pelo rei da França, Francisco I, que ironicamente respondeu ao rei português que a França só deixaria o litoral do Brasil se Portugal lhe apresentasse o "testamento de Adão", onde dizia que a doação das terras das américas eram feitas aos espanhóis e portugueses. 
    Diante de tais ameaças, Portugal tomou a decisão de ocupar o território e a partir de 1530 iniciou a colonização. Dom João III ordena à Martim Afonso de Sousa a vir ao litoral e expulsar os franceses das terras, observar e relatar cuidadosamente as características geográficas do Brasil e fundar povoamentos. São Vicente, atual litoral paulista, foi a primeira vila brasileira, criada em 1532. Tendo em vista a falta de capital da Coroa para continuar com a colonização, o rei decidiu entregar as despesas para a iniciativa privada. 
    A divisão das terras foram feitas em Capitanias Hereditárias, que foi o esquema encontrado pela Coroa portuguesa para a ocupação colonial. Foram quinze faixas de terras entregues para doze proprietários, com a missão de montar engenhos de açúcar, de pagar ao rei impostos pelos metais encontrados, e em troca os donatários poderiam vender o pau-brasil e índios em Portugal. 
    Os donatários eram capitães com poder de fazer as leis e administrar a produção e a renda das capitanias. No entanto, esses poderes eram bastante amplos, mas o sistema de capitanias não era feudal, já que a mão de obra era escrava e a produção visava o mercado externo. O sistema de capitanias teve poucos resultados no Brasil pois a falta de recursos financeiros levou ao fracasso. A maioria dos donatários nem sequer veio ao Brasil para assumir a colonização. Com o fracasso das capitanias, houve a necessidade de substituir a política descentralizada por um centro de unidade política e administrativa. Dessa forma, em 1548 foi criado o Governo Geral, tendo Tomé de Sousa como primeiro governador. Sua função principal era ajudar os donatários na produção agrícola. Cabia a ele também combater tribos indígenas rebeldes, e realizar buscas de possíveis jazidas de ouro ou prata pelos interiores, e construir navios para defesa do território. 
    Os governadores gerais pouco podiam fazer para estimular a produção e defender as terras, já que o território era extenso e os recursos escassos. De fato, o poder estava nas mãos dos donos das fazendas, chamados de senhores coloniais. Essa nova classe social detinha o poder local, onde os homens com propriedades reuniam-se para tomar as decisões políticas, administrativas e econômicas do município. Nessas reuniões decidiam-se as declarações de guerras com os de guerra ou paz com os índios, arrecadação de impostos, catequese, abastecimento de mão-de-obra escrava (negros e índios) para as fazendas. 
    O êxito açucareiro garante a colonização, já que trazia elevados lucros para à Coroa. A produção açucareira oferecia várias vantagens, como: 
  • boas experiências produtivas;
  • pequeno tempo gasto entre a produção e a comercialização do produto;
  • não havia concorrentes no mercado europeu;
  • grande quantidade de terras disponíveis e clima favorável;
    Para a montagem da agroindústria açucareira foram necessários recursos privados, através das concessões das capitanias hereditárias e das sesmarias, na qual foi estabelecida pela primeira vez na carta-patente de Martim Afonso de Souza e criou-se o mecanismo básico para a posse de terras, sem restrições, a não ser a obrigatoriedade de vir e ocupá-la. A doação de terras possibilitava aos donos a se tornarem grandes proprietários, e assim constituiu-se um grande atrativo ao colonizador. 
    As sesmarias, em média, possuíam até quatro léguas de testada, embora tenha havido muitos casos de convergência de dezenas de léguas nas mãos de um único colono. Inicialmente, era mais fácil tomar posse de sesmarias, que foram distribuídas não somente aos portugueses, mas também a estrangeiros, desde que fossem católicos e possuíssem capital para investir. 
    O Engenho: A grande propriedade era estritamente voltada para o mercado externo. Por isso, os colonos concentravam nelas todos os recursos, a fim de produzir mercadorias de alto valor comercial e em grandes quantidades. A produção do açúcar era feita no engenho, que se construía basicamente de:
  • casa grande: residência onde vivam os senhores do engenho e sua família. Nela moravam também os empregados de confiança (capatazes) e era a central administrativa do engenho;
  • capela: local onde eram realizadas as cerimônias religiosas;
  • senzala: habitação de um único compartimento, rústica e pobre, onde viviam os escravos;
  • casa do engenho: formada pelas instalações destinadas à produção do açúcar.

    A Escravidão:

    A grande propriedade dos senhores do engenho, além de monocultora, era escravista. Inicialmente, o problema de mão-de-obra foi resolvido com a escravização dos índios. Porém, à medida que a produção foi aumentando e se tornando significativa para o comércio português, recorreu-se à importação de africanos, tornando-os escravos. 
    Assim, a colonização do Brasil sustentou-se em larga escala, durante esse primeiro século, com a escravidão do aborígine, pois o tráfico negreiro foi direcionado principalmente para a américa espanhola. Os primeiros registros de tráfico de escravos para o Brasil datam de 1550, quando chegaram africanos em Salvador, para serem divididos entre os senhores. Essa situação modificou-se em meados do século XVII, quando os lucros do tráfico negreiro já não eram mais tão significativos, devido à concorrência de holandeses e ingleses.
    A escravidão transformou o africano em mercadoria, na qual poderia ser vendida, trocada, empenhada, doada ou comprada. Eram tratados como apenas um instrumento de trabalho, que não merecia receber qualquer educação, respeito e cidadania. Todos os direitos lhes eram negados, eram reduzidos à condição de "coisa", como animais, inclusive poderiam ser marcados com ferro quente para indicar a propriedade, como gado, ou ainda era usada como castigo. Eram tratados como "peça" pelos seus senhores, e viviam em condições totalmente desumanas. 
    O escravo negro foi responsável pela produção de aproximadamente 700 milhões de arrobas de açúcar, pela extração de cerca de 1200 toneladas de ouro, pela produção de tabaco, e além disso, realizava outros trabalhos como doméstico, sendo obrigados ainda a se submeter aos caprichos sexuais de seus senhores. 
    Enquanto existiu escravidão, existiu também reação de várias formas. Os negros não ficavam de braços cruzados diante da realidade desumana e opressiva. Na luta individual, praticavam o suicídio, o aborto, assassinatos de feitores, senhores do mato e de senhores. Na luta coletiva, atuavam de duas formas: pela organização de quilombos ou pela luta armada. 
    Os quilombos surgiram por toda região onde imperou a escravidão. O mais conhecido pelo seu nível de organização e resistência foi o quilombo dos Palmares, em Alagoas. Esse quilombo surgiu em 1630, inicialmente com 40 negros, e foi crescendo até que seus habitantes chegaram a praticar comércio com moradores vizinhos. Isso se deve ao fato de o quilombo ter se tornado um estímulo, uma bandeira, para os negros escravos das vizinhanças, um constante apelo à rebelião, à fuga e à luta pela liberdade. 
    Entretanto, essa resistência, na qual se incluíam também os índios e mulatos, tornou-se uma ameaça para os senhores coloniais, e sua destruição passou a ser uma necessidade para os mesmos. Assim, o século XVII foi marcado por uma guerra sem trégua aos quilombolas e Palmares. Porém, a repressão e a violência foram inúteis, pois em Alagoas, dois séculos mais tarde, surgiram os "papa-méis", negros que herdaram as tradições do famosos quilombo, onde atacavam vilas de surpresa, assaltavam fazendas, armavam emboscadas nas estradas... Além dos quilombos, os negros também organizaram armadas. 
    Embora as resistências fossem fortes, elas nunca vingavam, pois os negros não eram culturalmente homogêneos, inclusive, havendo rivalidades entre algumas nações, como os angolanos e sudaneses, por exemplo. O colonizador soube disso, e começou a tirar proveito da situação, tal como já fizera com os grupos nativos. Assim, sua salvaguarda estava nessa mistura de raças entre os negros, nas suas rivalidades internas.     

Evolução Administrativa

    O primeiro governador geral fixou a primeira capital da colônia em Salvador (Bahia), em razão de localizar-se, aproximadamente, a igual distância dos limites sul e norte das terras demarcadas pelo Tratado de Tordesilhas. Este governador introduziu a pecuária  e o cultivo de cana em regiões próximas de Salvador e procurou povoar a terra. Ele também construiu edifícios públicos e criou o município de Salvador, onde montou a primeira câmara de vereadores de "homens bons". 
    Foi durante a gestão do segundo governador que os franceses tentaram estabelecer uma colônia na América do Sul. Os franceses tinham em vista lançar as bases para a exploração mercantil e abrigar os protestantes calvinistas, que estavam sofrendo perseguições na França. O governador geral pediu apoio da corte para deter os invasores mas não recebeu apoio, então decidiu desistir de tomar qualquer providência. 

    A Resistência Indígena

    Mem de Sá foi o terceiro governador geral do Brasil. Ele conseguiu expulsar os franceses das terras do novo mundo, porém a maior ameaça para a colonização era indígena. Várias tribos indígenas reuniam-se contra a dominação portuguesa, uma das principais era a tribo dos tamoios, estabelecendo alianças eventuais com os franceses. Com a morte de Mem de Sá (1572), a corte portuguesa dividiu o Brasil em duas regiões, onde a parte sul com sede localizada no Rio de Janeiro ficou sob comando de Antônio Salema, cuja tarefa prioritária era acabar com a resistência indígena. 
    Com aliados indígenas, Salema cercou os tamoios em Cabo Frio, deixando-os passar fome e sede para que se rendessem. Diante da situação, os tamoios foram obrigados a negociar. O Governador não aceitou as propostas de negociação e impôs que os tamoios se rendessem por completo, e impôs também para os indígenas aliados, que ajudaram os rebeldes na luta. 

A Igreja, os Jesuítas e a Educação

    A Companhia de Jesus, que representava a Igreja Católica, exerceu um papel eminente na colonização da América de colonização ibérica. Inicialmente, seus objetivos eram divergentes da coroa portuguesa, onde pretendia preservar e conquistar para si as populações nativas, que ainda não tinham sido atingidas pela reforma protestante. 
    A Igreja Católica atuou no Brasil também por meio do Tribunal do Santo Ofício (instituição eclesiástica com caráter judicial e tinha como principal objetivo "julgar" as heresias) e pela Inquisição (movimento político-religioso com objetivo de buscar arrependimento daqueles considerados hereges pela Igreja). Os Tribunais aqui nas Américas eram representados pelo visitador, que era um padre enviado pela Mesa do Tribunal, que ouvia o povo em confissão, distribuía a penitência e levava pessoas presas para o reino, nas quais ele considerava culpadas de crimes contra a fé, segundo as leis da instituição. No Brasil, foram numerosas visitações das quais resultavam em grande número de vítimas.
    Os Jesuítas atuavam nas ordens religiosas estabelecidas nas colônias, e exerciam papéis na educação e na catequese do índio. Com Tomé de Souza, vieram os primeiros Jesuítas em 1549, expressamente recomendados a converter os índios a fé católica. Em 1550 dois colégios de meninos órfãos encontravam-se em funcionamento, visando principalmente a formação de quadros (sacerdotes), que pudessem se somar aos Jesuítas no seu trabalho catequético. 
    Com o tempo, os colégios passaram a atender também os colonos e seus filhos. Os estudos nos colégios Jesuítas consistiam em cinco a seis anos de Gramática, Retórica e Humanidades, e três anos de Filosofia, abrangendo a Lógica, Física, Metafísica, Moral e Matemática. Mas, quem quisesse continuar os estudos, para cursar uma Universidade, deveria ir para a Europa, pois na colônia o ensino superior era proibido. 
    Houveram atritos entre os colonos e os Jesuítas quanto ao trato dos indígenas. D. Sebastião, em 1564, instituiu um tipo de doação perpétua para o colégio na Bahia, que logo mais se estendeu para os demais. Essa atitude favoreceu a expansão dos colégios, que no século XVIII, se encontravam disseminados por quase todas as vilas e cidades. Assim, os Jesuítas praticamente monopolizaram a educação. 
    Os atritos com os colonos levaram os Jesuítas a organizarem missões religiosas. Segundo a visão Jesuíta, o contato com o branco era catastrófico para o indígena, uma vez que ele só visava roubar-lhe suas terras, suas mulheres e escravizá-lo. Então, a necessidade de se criarem áreas onde pudessem isolar o nativo e realizar, sem interferências, o trabalho da catequese. Dessa forma, surgiram as missões. 
    Dessa forma, os Jesuítas procuraram respeitar as bases da organização tribal e aos poucos foram introduzindo noções religiosas e técnicas de trabalho, que por sua vez, acabaram interferindo na organização tribal. Aos poucos ocorreu uma sobreposição da cultura europeia católica aos costumes típicos dos nativos, e o índio perde muito suas características próprias. Mesmo que sem ter a intenção, os Jesuítas acabaram por facilitar aquilo que combatiam: a escravização do ameríndio. Isso porque, agrupado nas reduções, o indígena será facilmente dominado pelos caçadores de escravos. 

Bandeirantes

    Inicialmente, as entradas das Banderas eram para servirem como defesa do território e combater os indígenas. Tinham interesses particulares, especialmente para a procura de alternativas para os problemas sociais de miséria e estagnação da região. Os Bandeirantes procuravam o "remédio" para sua pobreza no interior do Brasil, e esse remédio, em princípio, era o índio, caçado como selvagem e transformado em escravo. Depois foi o ouro da região das Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. 
    O índio também servia como guia na mata, na busca de metais preciosos. Além disso, os senhores do engenho também contratavam os bandeirantes para trazer-lhes indígenas para a mão-de-obra escrava. As buscas eram feitas, principalmente, nas missões Jesuítas, pois lá os índios estavam "domesticados" para a exploração escravocrata. 
    Nas invasões holandesas, o monopólio do comércio de escravos para o Brasil era feita pela Holanda, que dominou colônias portuguesas na África e vendia os negros por altos preços. Daí a opção pela escravização do nativo, que passa a ser uma "mercadoria" altamente valorizada. Para conseguir escravos, era costume entre os paulistas o incentivo às guerras de tribos, os perdedores eram escravizados.
    Com a restauração do trono Português e a reconquista das colônias da África, voltam com a mão-de-obra escrava negra para as lavouras. Em decorrência com a concorrência com os Holandeses, houve uma crise açucareira no Brasil, e isso resultou na diminuição do valor do escravo índio. Estes e mais outros fatores fizeram com que os bandeirantes perdessem o interesse pela captura do índio, passando a exercerem uma outra atividade: o sertanismo de contrato. Nessa atividade, os bandeirantes eram contratados para reprimirem as tribos indígenas resistentes à escravidão e os negros foragidos das fazendas. 

Principais Rebeliões Coloniais

    Até meados do século XVII, os portugueses exploraram o Brasil com uma relativa paz, ou seja, havia acordos entre a elite colonial e o governo metropolitano. Porém, a partir de certo ponto, continuar com as explorações significava também incentivar o crescimento das colônias. Com o desenvolvimento, poderiam surgir ideias de independência em relação à metrópole. 
    O proprietário agrícola colonial era estimulado por Portugal a desenvolver seu negócio e gerar lucros, também, para a Corte. Quanto mais progredia, mais força adquiria para lutar por seus interesses próprios. Em algumas ocasiões, esse proprietário sentia-se sufocado pelo sistema colonial. Portanto, a metrópole ao mesmo tempo que aspirava aos lucros provenientes da colônia, também criava uma série de limites provenientes para a mesma. Essa contradição acaba gerando revoltas, que giravam em torno de todo território do Brasil. Inicialmente, nem todas eram com objetivos separatistas. 

       Rebeliões sem objetivos separatistas

    Revolta de Beckman, Maranhão 1684: Nessa época, o estado do Maranhão enfrentava uma grande crise econômica, pois a empresa açucareira não estava conseguindo pagar os altos preços do escravo africano. Para resolver o problema da falta de mão-de-obra, os senhores do engenho organizaram tropas para capturar os povos nativos, e invadiram aldeias indígenas para submete-los ao trabalho escravo. Essas atitudes provocaram protestos por parte dos Jesuítas, que recorreram à Corte. Diante disso, a Companhia de Jesus consegue a proibição definitiva da escravidão indígena. 
    Com isso, a Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão, que foi criada por Portugal, a fim de introduzir na capitania 500 africanos por ano durante 20 anos, não comprometeu-se com o acordo, agravando ainda mais a situação de descontentamento na região. 
    Portanto, um grupo de proprietários maranhenses, liderados pelo senhor do engenho Manuel Beckman, destruíram armazéns da Companhia Geral de Comércio e invadiram o colégio dos Jesuítas e expulsaram os padres. Os rebeldes constituíram um governo provisório. A corte, ao saber das revoltas, tomou providências imediatas, enviando para a capitania Gomes Freire de Andrade como novo governador. Eles chegaram ao local em 1685, e aplicaram duras penas aos rebeldes, inclusive a pena de morte para Manuel Beckman e a mais dois líderes do movimento. 

    Guerra dos Mascates, Pernambuco 1710: Os mercadores de Olinda e comerciantes de Recife entraram em conflitos, sendo apelidados de "mascates", justamente pela profissão de mercadores que exerciam. Os senhores do engenho não imaginavam que suas fortunas fossem entrar em declínio. Porém, tal situação estava ocorrendo pela queda do preço do açúcar no mercado europeu, em decorrência da produção holandesa nas Antilhas. 
    Devido a isso, os senhores de engenho recorreram aos mascates (comerciantes portugueses), do povoado vizinho, em Recife, na qual emprestavam valores a altos juros. Aos poucos foram surgindo rivalidades de proprietários de Olinda e comerciantes de Recife. Como uma classe social em ascensão, os comerciantes de Recife recorreram à Corte e solicitaram que o povoado dependente de Olinda fosse elevado à categoria de vila. O rei atendeu a solicitação. 
    No ano de 1710, os senhores do engenho organizaram uma rebelião contra recife, tendo como seu líder o latifundiário Bernardo Vieira de Melo. A metrópole não estava favorável para fazer concessões para os proprietários e veio a intervir com violência, condenando Bernardo ao exílio. Como fim do conflito, os mascates assumiram o poder e Recife se tornou capital de Pernambuco. 

    Revoltas com objetivos separatistas

    Conjuração Mineira, Minas Gerais 1789: A situação de Minas Gerais não estava boa ao final do século XVII. O então governador Visconde de Barbacena ameaçava cobrar a força todos os impostos atrasados ("derrama"), e apavorava a população. E a exploração dos portugueses na região estava insuportável, daí veio o interesse em por fim às determinações de Portugal. 
    Os novos ricos, "figurões" da região, na qual enriqueceram com a extração do ouro, resolveram conspirar contra a metrópole opressora. Além de pessoas que enriqueceram com o ouro, haviam também militares de alta patente, padres e latifundiários. Dentre os "inconfidentes" (denominação pela qual ficaram conhecidos os participantes dessa rebelião), estavam Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e o cônego Luís Vieira, na qual constituíam os ricos intelectuais formados em Coimbra (Portugal), ou França, onde foram influenciados pelas ideias iluministas, muito disseminadas naquele momento pela Europa. 
    Os inconfidentes mineiros tinhas projetos para o país após a libertação de Portugal. Eles criariam manufaturas de pólvora, tecidos e ferro, o governo adotaria uma forma republicana, a capital seria São João Del Rei. Essa elite que se revoltou contra Portugal tinha pouco contato com o povo. O vínculo com a população em geral era feito através de Tiradentes, visto como o mais entusiasmado dentre os inconfidentes. 
    Essa conspiração foi descoberta através do coronel Silvério dos Reis, que para ter suas dívidas perdoadas perante ao fisco, delatou o plano de revolta armada, marcada para o dia da "derrama". Com essa informação, o governador mandou prender os revoltosos, que receberam as respectivas sentenças: Tiradentes, morte na forca e demais rebeldes, exílio na África. Tiradentes serviria de exemplo para aqueles que conspiravam contra a coroa. O corpo de Tiradentes foi esquartejado e as partes espalhadas pela cidade. 

    Inconfidência Baiana ou Conjuração dos Alfaiates, Bahia 1789: Houve na Bahia um movimento que também teve como objetivos romper com a Corte Portuguesa. Teve grande apelo popular, pois entre suas finalidades, estava a instalação de um governo republicano e o fim da escravidão. Diferente os inconfidentes mineiros, os baianos eram mais ligados ao povo, como por exemplo o médico Cipriano Barata, o farmacêutico João Ladislau e Melo, e o padre Agostinho Gomes. 
    Portanto, ocorreram diversos debates na sociedade secreta Cavalheiros da Luz, onde discutiam os ideais iluministas, e chegaram a conclusão de que somente pela força seria possível acabar com o jugo português. Teve início em 12 de agosto de 1798 o levante liderado pelos alfaiates João do Nascimento e Manoel Faustino dos Santos. Por meio de cartazes espalhados por Salvador, os rebeldes esperavam ter apoio popular. Mas, antes que a população pudesse entender o que estava acontecendo, o governo reprimiu o movimento. Em 25 de agosto todos os implicados na conspiração tinham sido presos, quatro líderes mulatos foram enforcados, e os demais portados para fora da colônia. 
    Enquanto a Conjuração dos Alfaiates teve um cunho mais social, a Conjuração Mineira foi essencialmente política. A conjuração mineira teve inspiração na Independência dos Estados Unidos e participantes intelectuais, padres e ricos proprietários. A Baiana, por sua vez, foi inspirada pela Revolução Francesa e contou com a participação de alfaiates, soldados, escravos, mulatos e poucos brancos. Além de que, tinha como objetivos a abolição da escravatura, o que sequer era cogitado pelos mineiros. 

Prof Laila

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